domingo, agosto 20, 2006

As páginas da vida


Aqui estou eu, em frente à tv, assistindo novela ao mesmo tempo em que digito este texto. Não façam pré-conceitos, novela é o ícone da cultura pop que mais me agride, motivo pelo qual não assisto desde o início dos anos 80. O que faço eu aqui então? Bem, depois de uma determinada idade as coisas ficam mais complexas e as histórias mais compridas, mas nem por isso menos interessantes. Uma das coisas boas da memória são as boas lembranças. Recordar é viver é saudosista e estático demais pra mim, já, recordar é viver o hoje melhor, se encaixa melhor a minha maneira de ver as coisas, embora isto já esteja mudando o rumo do assunto. Poder ter participado, acompanhado a trajetória de alguém, é uma das coisas que enriquece a sua vida, poder, pela exemplificação, apropriar-se do conhecimento vivido na experiência alheia. Vou ater-me num exemplo composto de vontade, determinação, competência e dedicação. José era um menino tímido e franzino, até mesmo pra mim é difícil imaginar um leonino tímido e franzino, mas as coisas mudam. Entre travessuras de moleque e as responsabilidades cotidianas - aqui vem um lapso de memória - ele comprou ou ganhou um violão. A música como maneira de expressão passou a fazer parte de sua vida através da convivência com seus colegas do Instituto de Educação: Jorge, Márcio, Luiz Henrique, Marcelo e outros que não lembro mais. Começa a fase Stairway to heaven, depois veio a paixão pelo dodecafonismo, influenciado por Arrigo Barnabé, o rock and roll, as tardes de sábado assistindo o mestre Abelardo Barbosa e os Thundercats. O jovem José decide-se pelo contrabaixo. Nessa fase, arriscamo-nos no dodecafonismo com a interminável música Elvira, a que se vira pra se sustentar. Começam as aulas de contrabaixo com baixistas da cena local, as aulas na escolinha da OSPA. É mais ou menos nessa época que a Chácara das Pedras começou a sua fase de consolidação em bairro de elite, o adeus a velhos amigos espantados para a periferia que mudava para mais além. Começaram novos contatos, novas amizades. Vai morar no bairro o casal Ralfinho e Terezinha que recebem a visita de seus muitos amigos: Léo, Baca, Gustavo, Henry, Mendel, Sidnei e tantos outros, de gostos musicais variados. Todos esses amigos novos - menos a Terezinha - tocavam algum instrumento. Havia um quartinho no fundo da casa deles em que foi montado um precário, mas eficiente, estúdio de ensaio. Por ali passaram muitos músicos que encheram de música as manhãs, tardes, noites e madrugadas da chacrinha. Lá, tocavam de Jeff Beck, Frevo, MPB, Pink Floyd a outros rocks mais, sem discriminação. Ali também passavam muitas cantoras e promessas de cantoras e foi dai que veio o primeiro show do jovem Zé no Clube de Cultura, acompanhando Luciana Costa. A platéia lotada de amigos orgulhosos, afinal ali estava um representante legítimo da antiga chacrinha, a prova viva de que tudo era possível a eles também, sem se descuidarem de num momento ou outro soltarem um grito: Zé mulher. Bordão esse que acompanhou o saidinho e ex -franzino até boa parte dos shows de sua banda os Good-byes. Banda com fortes influências do reggae e do pop. Sérgio no vocal, Léo na guitarra, Zé no baixo e Fernando na bateria, mantêm a banda até hoje, embora por bem tenham entendido que o primeiro nome escolhido deveria ser alterado. Encontro-me aqui, assistindo não o desenrolar de uma trama de fórmula inalterada e guiada pelos altos índices de audiência, mas a vitória da vontade da determinação de uma história real e como todas elas imprevisíveis, estou assistindo a tomada de assalto do capítulo de segunda feira, 14 de agosto, de Páginas da Vida, por Zé e seu grupo os Papas da Língua. Assisto mais uma grande página na vida, com um orgulho indescritível e gritando para mim como nos velhos tempos: Zé mulher!!!!

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Kafu, também não vejo novelas e muito menos das 20h,horário que nunca estou em casa), geralmente qdo chego em casa ligo o rádio, mas nesse dia liguei a tv. E lá estavam eles tocando na tv no horário nobre , surpresa e feliz, ainda mais qdo tu sabe como eram e como são eles agora. É saber que são pessoas do bem, gente boa e querida.
Hoje o Zé (grande Zé) está de aniver!! Sei que falas frequentemente com ele diz que mandei abraços e muitas felicidades. bjs da Lúcia (da antiga!!)

Anônimo disse...

tu tens toda razão,não conheço o Zé tão bem quanto tu.Mas fiquei muito feliz e orgulhoso de vê-lo tomando a Globo de assalto.
Como já dizia aquele slogan do prêmio prifissionais do ano:"nada substitui o talento".

Anônimo disse...

PENSA QUE É FÁCIL???
fácil mesmo é fazer churrasco
com os amigos ...Tomar umas e dar risadas .Nada como ter "amigos" .
o kAFU ,além de amigo,excelente DJ,jardineiro mestre,e pegador de bolinha de golfe , é meu afilhado .Mas,mesmo assim,ainda me apronta mais esta aí .Ninguém merece!
hehe
GRANDE ABRAÇO NEGRI
CAMPEÃO DA LIBERTADORES 2006
PS:PNBENGA

Unknown disse...

Mazolha Só !!!
São esses os exemplos de talento que revigoram a luta do dia-a-dia.
Fico feliz demais quando encontro o Zé pela chacrinha e trocamos uma palavra ou duas. É gente nossa, como a gente.