terça-feira, agosto 22, 2006

Who’ll Stop The Rain???


Inundações, desabamentos, maremotos, afogamentos... São muitas as coisas ruins a que nos remete a chuva. O contra-ponto é a chuva da lavoura, a que abastece rios e represas, a da diversão de criança, a da antológica cena de “Dançando na chuva”, com Gene Kelly e Debbie Reynolds, pra ficar no que me vem rapidamente à memória. Mas a minha admiração maior em relação à chuva está no mito. A chuva está presente em muitos mitos de fertilidade e passagem. A chuva é renascimento e vida nova. Na tragédia grega ela marca o início de um novo ciclo. Na cultura Inca, somada a lua, representava purificação. Para os indianos, mulher fecunda é chuva. Na Bíblia, em Isaías, 45, 8 está dito: “Que os céus, das alturas derramem o seu orvalho, que as nuvens façam chover a vitória, abra-se a terra e brote a felicidade e ao mesmo tempo faça germinar a justiça!”.

A conotação popular traz em si miséria, sofrimento, falta de sorte. E quando pão e circo é apenas uma expressão do passado, acaba reforçando aquela sensação de impossibilidade, da ausência de melhor perspectiva e conspiração divina que acompanha o inconsciente popular. O que vem a ser a alegria da elite e dos que comungam em ideologia. No velho Marx está dito de forma mais rebuscada que a alegria de um é a desgraça de outro.

Quando a chuva veio pela primeira vez, a primeira coisa que me veio à cabeça foi renascimento, mas com medo da conspiração divina, calei-me. Na segunda vez que a chuva surgiu, estava tomado de pânico, pois afinal, a história poucas vezes favoreceu o povo. Mas enfim, os mitos não estão aí à toa e o colorado sagrou-se campeão, com muita batalha e com muito sofrimento, fazendo jus a toda e qualquer conquista de alguém do povo. E a lua surgiu no céu.

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