sábado, novembro 25, 2006

Com Manah, adubando dá!


Plantar é uma terapia gratificante, quanto mais tempo você se predispõe a gastar nos cuidados com a sua planta, maior será o retorno que ela lhe dará, através de lindas folhas, brotações, flores, frutos, abrigo... As plantas também têm suas particularidades entre uma espécie e outra e também entre as iguais. Quem tem esse hábito sadio sabe do que estou falando. Duas violetas nas mesmas condições não respondem identicamente. Criar filhos tem uma similaridade com o plantio de umedecer os olhos de quem sabe o valor de um beijo, um sorriso, um abraço. Quando conjugados transformam as cores do dia em cores de película de filme europeu.

sábado, agosto 26, 2006

Adios pampa mio!


O calor é insuportável, as notícias assustam: a maior seca do novo século, El niño implacável... Os efeitos da monocultura, o desrespeito às margens dos rios e nascentes, o uso indiscriminado de agrotóxico, os dejetos lançados aos rios sem tratamento, o efeito estufa, lixo que escorre pelos bueiros, o descaso das autoridades e muitas outras tantas façanhas em nome do progresso levam a natureza a apresentar a conta. No Taim, mais uma vez a falta de respeito às normas de transito e a má sinalização tem levado milhares de ornitorrincos e ednas à morte, quando saem em busca de água. Coalas mortos são encontrados aos bandos à volta de lagos do mais puro Roundap. Salasier Martins, de volta ao trabalho após o longo período de congelamento, brada aos costumes no telejornal: “Até quando o descaso das autoridades levará à morte milhares de bichinhos inocentes”. Os lençóis freáticos secaram, a terra é árida. O deserto verde é a vedete dos desinformados e dos sofistas. As grandes plantações de eucaliptos são ocupadas por máquinas e coalas corsários que devastam as plantações em busca de pastilhas Valda legítimas. O caos está estabelecido. Milhares de populares revoltados, em estado de mais pura miséria, acampam na entrada das grandes plantações de eucalipto em busca dos empregos prometidos pelos políticos e empresários. As pessoas perguntam se não há trabalho, não há comida qual é a finalidade de tanto papel higiênico, guardanapos e afins produzido a partir da madeira do eucalipto que acabou com parte de nossa identidade cultural: o Pampa Gaúcho. Vamos convir, como faz cocô esse pessoal do primeiro mundo, ainda mais se for num país de terceiro mundo qualquer, onde sempre haverá um Abelardo I aplicando a Lei de Gerson a qualquer custo.


Quer saber mais?


IDEC


Brasil de fato


Adital


Deserto verde org


Google deserto verde

terça-feira, agosto 22, 2006

Who’ll Stop The Rain???


Inundações, desabamentos, maremotos, afogamentos... São muitas as coisas ruins a que nos remete a chuva. O contra-ponto é a chuva da lavoura, a que abastece rios e represas, a da diversão de criança, a da antológica cena de “Dançando na chuva”, com Gene Kelly e Debbie Reynolds, pra ficar no que me vem rapidamente à memória. Mas a minha admiração maior em relação à chuva está no mito. A chuva está presente em muitos mitos de fertilidade e passagem. A chuva é renascimento e vida nova. Na tragédia grega ela marca o início de um novo ciclo. Na cultura Inca, somada a lua, representava purificação. Para os indianos, mulher fecunda é chuva. Na Bíblia, em Isaías, 45, 8 está dito: “Que os céus, das alturas derramem o seu orvalho, que as nuvens façam chover a vitória, abra-se a terra e brote a felicidade e ao mesmo tempo faça germinar a justiça!”.

A conotação popular traz em si miséria, sofrimento, falta de sorte. E quando pão e circo é apenas uma expressão do passado, acaba reforçando aquela sensação de impossibilidade, da ausência de melhor perspectiva e conspiração divina que acompanha o inconsciente popular. O que vem a ser a alegria da elite e dos que comungam em ideologia. No velho Marx está dito de forma mais rebuscada que a alegria de um é a desgraça de outro.

Quando a chuva veio pela primeira vez, a primeira coisa que me veio à cabeça foi renascimento, mas com medo da conspiração divina, calei-me. Na segunda vez que a chuva surgiu, estava tomado de pânico, pois afinal, a história poucas vezes favoreceu o povo. Mas enfim, os mitos não estão aí à toa e o colorado sagrou-se campeão, com muita batalha e com muito sofrimento, fazendo jus a toda e qualquer conquista de alguém do povo. E a lua surgiu no céu.

domingo, agosto 20, 2006

Histórias de Babel : O jogo sem fim


Era um típico domingo modorrento de inverno em Porto Alegre. As nuvens pintadas de chumbo, indiferentes as caricias do minuano, conduziam impiedosamente para a introspecção. Lembrou-me a Náusea. O estádio Ramiro Souto, no Parque da Redenção, estava preste a entrar para história. Contaria, ao menos uma vez, a história dos sem-história. Havia todas as coisas necessárias a uma final de várzea: disposição, entusiasmo, dedicação, torcida, churrasqueiras feitas de meio tonel, samba, camisas de golas puídas e muita animação. Os times já estavam em campo, e com a bola rolando zagueiro e avante de times opostos - jogadores da mesma faixa de campo-, mediam-se lado a lado fazendo inveja à memória das falecidas torres gêmeas. Não era somente o dia de saber quem seria o campeão, era também o dia em que Sérgio, filho do Sampaio, iria aproveitar-se de um dos poucos momentos em que Paulão forçosamente baixava a guarda e deixava sua irmã Rosinha desacompanhada, embora Paulão tenha se empenhado muito em tentar convencer os demais companheiros de equipe da possibilidade dela fazer uma excelente dupla de zaga com ele. Uma partida de várzea de verdade é um evento social, muitas vezes, até mais do que esportivo. Era um jogo de alma gaúcha, viril, porém limpo. As equipes não tinham chegado até ali sem méritos, equivaliam-se. A prova contundente foi o término do tempo normal em 3x3 e 1x1 na prorrogação. O jogo dirigiu-se a dramática loteria dos pênaltis. Sérgio encontrou a reciprocidade de Rosinha ao levar a cabo seu plano traçado nas madrugadas mal dormidas. A paixão e o amor, quando dispostos, são carrascos sem pares. Muitos torcedores, empanturrados de cerveja e churrasco, já haviam esquecido o motivo original de sua ida até ali e o samba ficou animado. Deixa a vida me levar. Já com o fim da tarde de pouca luz, iniciou-se a cobrança das penalidades. Os dois times ficaram alinhados na linha divisória do gramado, extremamente extenuados, cada um daqueles anônimos teve, além das noites mal dormidas por força da ansiedade da partida decisiva, seus dias de labuta atrás de uma direção de caminhão, carrinho de pedreiro, balcão do comércio, roleta de ônibus. Restou rezar a Deus pelo sucesso desta pequena grande façanha. Porém, é o mesmo Deus de todos os presentes e, na melhor forma de seu bom humor característico, atendeu a todos, menos os goleiros, e nenhuma bola foi desperdiçada. Os torcedores aos poucos se foram. Já era meio da tarde de segunda-feira quando o administrador do parque, atendendo a solicitação de um professor de educação física do Colégio Militar, pediu que o campo fosse liberado para a aula marcada, transferiu a cobrança das penalidades para o campo suplementar de areia. Camila, a primeira das três filhas de Rosinha com Sérgio, vai debutar no próximo final de semana sem poder contar com a presença do tio, que segue ainda lá defendendo o brio dos comuns. Se você tiver a oportunidade de passar por ali observe aqueles senhores que mais parecem sobreviventes dos farrapos jogando ao fundo. Sim, são eles mesmos.

As páginas da vida


Aqui estou eu, em frente à tv, assistindo novela ao mesmo tempo em que digito este texto. Não façam pré-conceitos, novela é o ícone da cultura pop que mais me agride, motivo pelo qual não assisto desde o início dos anos 80. O que faço eu aqui então? Bem, depois de uma determinada idade as coisas ficam mais complexas e as histórias mais compridas, mas nem por isso menos interessantes. Uma das coisas boas da memória são as boas lembranças. Recordar é viver é saudosista e estático demais pra mim, já, recordar é viver o hoje melhor, se encaixa melhor a minha maneira de ver as coisas, embora isto já esteja mudando o rumo do assunto. Poder ter participado, acompanhado a trajetória de alguém, é uma das coisas que enriquece a sua vida, poder, pela exemplificação, apropriar-se do conhecimento vivido na experiência alheia. Vou ater-me num exemplo composto de vontade, determinação, competência e dedicação. José era um menino tímido e franzino, até mesmo pra mim é difícil imaginar um leonino tímido e franzino, mas as coisas mudam. Entre travessuras de moleque e as responsabilidades cotidianas - aqui vem um lapso de memória - ele comprou ou ganhou um violão. A música como maneira de expressão passou a fazer parte de sua vida através da convivência com seus colegas do Instituto de Educação: Jorge, Márcio, Luiz Henrique, Marcelo e outros que não lembro mais. Começa a fase Stairway to heaven, depois veio a paixão pelo dodecafonismo, influenciado por Arrigo Barnabé, o rock and roll, as tardes de sábado assistindo o mestre Abelardo Barbosa e os Thundercats. O jovem José decide-se pelo contrabaixo. Nessa fase, arriscamo-nos no dodecafonismo com a interminável música Elvira, a que se vira pra se sustentar. Começam as aulas de contrabaixo com baixistas da cena local, as aulas na escolinha da OSPA. É mais ou menos nessa época que a Chácara das Pedras começou a sua fase de consolidação em bairro de elite, o adeus a velhos amigos espantados para a periferia que mudava para mais além. Começaram novos contatos, novas amizades. Vai morar no bairro o casal Ralfinho e Terezinha que recebem a visita de seus muitos amigos: Léo, Baca, Gustavo, Henry, Mendel, Sidnei e tantos outros, de gostos musicais variados. Todos esses amigos novos - menos a Terezinha - tocavam algum instrumento. Havia um quartinho no fundo da casa deles em que foi montado um precário, mas eficiente, estúdio de ensaio. Por ali passaram muitos músicos que encheram de música as manhãs, tardes, noites e madrugadas da chacrinha. Lá, tocavam de Jeff Beck, Frevo, MPB, Pink Floyd a outros rocks mais, sem discriminação. Ali também passavam muitas cantoras e promessas de cantoras e foi dai que veio o primeiro show do jovem Zé no Clube de Cultura, acompanhando Luciana Costa. A platéia lotada de amigos orgulhosos, afinal ali estava um representante legítimo da antiga chacrinha, a prova viva de que tudo era possível a eles também, sem se descuidarem de num momento ou outro soltarem um grito: Zé mulher. Bordão esse que acompanhou o saidinho e ex -franzino até boa parte dos shows de sua banda os Good-byes. Banda com fortes influências do reggae e do pop. Sérgio no vocal, Léo na guitarra, Zé no baixo e Fernando na bateria, mantêm a banda até hoje, embora por bem tenham entendido que o primeiro nome escolhido deveria ser alterado. Encontro-me aqui, assistindo não o desenrolar de uma trama de fórmula inalterada e guiada pelos altos índices de audiência, mas a vitória da vontade da determinação de uma história real e como todas elas imprevisíveis, estou assistindo a tomada de assalto do capítulo de segunda feira, 14 de agosto, de Páginas da Vida, por Zé e seu grupo os Papas da Língua. Assisto mais uma grande página na vida, com um orgulho indescritível e gritando para mim como nos velhos tempos: Zé mulher!!!!

segunda-feira, julho 17, 2006

Babel


Babel não era o tipo de local que se encontra em qualquer esquina, embora, cada aldeia tenha a sua com suas devidas peculiaridades e proporções. Também não era qualquer lancheria, era ainda espelunca, boteco, restaurante francês, fast food... Um tudo em um, o legítimo bombril, já que atendia das madames aos mendigos do bairro. Seu prato especial era uma feijoada servida de segunda a segunda, cujo segredo estava no tempero muito local, composto por um copo de boêmios, uma pitada de gays, duas xícaras de estudantes, dez artistas, um balde de pretensos e intelectuais bem misturados, uma pitada de motoristas de táxi, outra de traficantes e comerciantes em geral, molho secreto a base de preço e cerveja a gosto...Seus atendentes japoneses atendiam em russo, javanês e num dialeto obscuro de uma colônia italiana. Local de discussões acirradas, como a que presenciei sobre a importância das meias do Pinda nos novos rumos da escola de Frankfurt. Não havia como não sentir se em casa: ser tratado pelo nome e ter suas preferências lembradas por todos os garçons, tudo isso regado a muita humanidade, fazendo valer a pena estar lá, até mesmo quando um deles mais saidinho resolvia flertar sua namorada. Babel bem poderia ser a sala da corte de Sherazard, de tantas histórias que por lá circulavam.

segunda-feira, julho 10, 2006

Arigato Globo, arigato Lula!!



A discussão sobre a escolha de um padrão de tv digital ficou longe do conhecimento dos cidadãos brasileiros. Muito disso se deve ao total desinteresse dos meios de comunicação na circulação dessa informação. Discussão essa, que a meu ver, traria benefícios mais significativos à sociedade brasileira que, por exemplo, a proibição do comércio de armas, já que impedir o contrabando é humanamente impossível. Quase ninguém sabe exatamente o que perdeu, mas as companhias de tv sabem exatamente o que estão ganhando. Aproveitando-se do momento Copa do Mundo mais corrida eleitoral, o governo Lula determinou, sem fazer alarde, a adoção do padrão japonês de tv digital. Mas não se preocupe, você perdeu, mas Lula associado às empresas de televisão - capitaneadas pela rede Globo - ganharam. Em mais um pacto sinistro, em vista as próximas eleições, escorreu pelo ralo a última gota de dignidade do Partido dos Trabalhadores. O que poderia ser um marco na história das telecomunições, a tão sonhada democratização dos meios ou o mais próximo que dela se poderia chegar, uma concorrência mais acirrada, foi negociado a fim de não mexer na hierarquia dos caciques da grande aldeia global. Vamos aos fatos: existe no mundo hoje, três padrões de transmissão digital em uso, o americano (ATSC) o japonês (DVB) e o europeu (ISDB). O japonês e o americano são de alta definição (tv com qualidade de cinema) e o europeu que optou por um número maior de canais em detrimento à alta definição. A banda por onde passa o sinal tem uma largura (lembra da banda de Internet?) determinando a quantidade de dados, tamanhos e velocidade que por ali pode trafegar. Você pode optar por um sistema televisivo de alta definição e, com isso, ter um consumo maior da banda - o que acabará representando um número menor de canais ou um aumento significativo na quantidade de canais e diversificação de opções de entretenimento. Havia também a possibilidade do desenvolvimento de um sistema nacional próprio e um binacional em parceria com a China. As pesquisas para a construção de um sistema nacional - depois de um investimento de 80 milhões de dólares - estava em estágio avançado e só não avançou mais devido a supressão da verba restante do orçamento previsto. A qualidade da tv digital é bem superior à convencional, mesmo quando não é feita em alta definição. O interesse das redes de comunicações estabelecidas ao defender o padrão de alta definição está longe das questões estéticas, o xis da questão é: menor quantidade de canais, menor concorrência. No rádio temos um exemplo parecido quando dificultam a existência de rádios comunitárias. Além de envolver grandes lucros, empresa de comunicação também é poder (vide a grande quantidade de vereadores prefeitos, deputados estaduais, federais e senadores eleitos ligados a empresas de comunicação). Há ainda o caso clássico quando a rede Globo elegeu Fernando Collor presidente, isto antes, é claro, do Luis Inácio se mostrar cordeiro em pele de lobo ou vice versa. Tendo um número maior de canais seria viável a empresas montarem sistemas de transmissão (a parte caríssima) e alugar faixas da banda a pequenos produtores de conteúdo, o que tornaria a tv digital acessível, por exemplo, a canais comunitários. Daqui a pouco vão querer, sob um pretexto qualquer, censurar a Internet, assim como fazem na China. Falam por aí, que ao defender o padrão japonês, a Globo terá acesso a equipamentos Sony a preço abaixo do praticado no mercado, não afirmo, mas duvidar jamais. Estaremos atrelados ao Japão para o resto de nossas vidas, pagando royalties pelo uso do sistema. Devemos também levar em consideração dois fatos relevantes: o Ministro das Comunicações Hélio Costa tem relações estreitas com empresário do ramo e, em menos de um mandato do governo Lula, já foram distribuídos mais concessões de rádios e tvs que nos dois mandatos de Fernando Henrique - na sua maioria a políticos, igrejas ou organizações ligados a eles. Em breve você poderá, do conforto de sua sala ou de onde quer que sua tv esteja, assistir em alta definição ao conteúdo maravilhoso da televisão aberta. Quando vejo essas coisas não posso deixar de lembrar de minha mãe. Ao me ver sair de casa, nas madrugadas do início dos anos 80, para fazer piquete em portas de fábricas e garagens de ônibus, me repreendia dizendo: Tu vai ficar sozinho nisso, depois não adianta chorar. Ou ainda pior, quando mais tarde (do meio dos 80 ao meio dos 90), sendo eu DJ proprietário de um pequeno equipamento de som, trabalhei gratuitamente e cedi meu equipamento n vezes e, em outras tantas, pratiquei preços abaixo do mercado ao Partido dos Trabalhadores e a Frente Popular, por acreditar estar dando minha contribuição a liberdade e a uma sociedade mais justa e igualitária. Agora vejo meu barco naufragar neste mar de lama navegado por piratas CC'S, com uma ponta de culpa e outra de total desesperança. Arigato Lula!!!

Quer saber mais e melhor? acesse os links abaixo.

http://www.fndc.org.br/

http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1059555-EI6794,00.html

http://www.softwarelivre.org/news/6819

http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI941522-EI306,00.html

http://www.estadao.com.br/ultimas/nacional/noticias/2006/jul/12/291.htm

http://converse.org.br/de_costas_para_h_lio_costa

http://forum.jogos.uol.com.br/viewtopic.php?t=717078

http://www.teleco.com.br/tvdigital.asp

segunda-feira, junho 26, 2006

Tribo, tribal, tribalismo


A forma como tentamos nos organizar em sociedade tem um erro no princípio. Justificamos a vida em sociedade por que somos seres racionais e sociáveis, ainda que se faça necessário a norma. Em todos os discursos sobre a racionalidade há sempre um caráter positivo sobre a mesma. Entre os animais existem os caninos, felinos, répteis, humanos e outros. À parte os humanos, nos demais, biólogos e estudantes da vida animal conseguem distinguir uma diversidade de espécies com características muito específicas que servem de diferenciação em cada categoria. Porém, o nosso espírito elevado, coletivo, civilizado e racional estipulou diferenças nada perceptíveis sob a luz da ciência na raça humana. São elas: os dogmas de fé, a consangüinidade, as pátrias, as riquezas, cor da pele, correntes de pensamentos políticos e filosóficos... Essa pretensa forma de organização, se analisada dentro de uma célula urbana, ainda subdivide-se em skatistas, clubbers, gays, comandos, bondes, torcidas organizadas, times de futebol... E lá se foi o boi com a corda! Toda essas formas de organizações e micro-organizações são muito mais do que formas de defesa, são também, tentativas de prevalecer umas sobre as outras. Todos nós, em algum momento de nossas vidas, ficamos em frente à tv assistindo algum documentário sobre a vida animal. E ficamos fascinados como leões, crocodilos, hienas (essas sim, muito organizadas) garantem sua sobrevivência. Inconscientemente, a nossa grande admiração está no modo de agir do predador, onde muito nos identificamos. As grande riquezas em oposição a total miséria, o total desrespeito aos recursos do planeta (tratado de Kioto) , as guerras santas, guerras por fronteiras, guerras por um espaço na pista de dança, guerras tribais, guerras por hegemonia de raça e até mesmo uma partida de futebol, deixa muito evidente quem é o maior de todos os predadores, onde toda a racionalidade e seus operadores são instrumentos a serviço dessa voracidade. A bestialidade resultante do uso de nossa propagada inteligência não nos difere em nada de qualquer animal do Kalahari e, quando difere, é de forma negativa, uma vez que os demais animais só caçam o suficiente para saciar a fome .

Está aí a grande falha dos pensadores do fundamento do Estado em seu seus devaneios sobre a teoria geral do Estado. Hobbes, Rousseau, Locke, estabeleceram as bases de seus pensamentos sobre forte influência da Igreja Católica. E ali ficaram presos discutindo se homem é bom ou mau por natureza. E, por isso, talvez tenham falhado na sua tentativa de justificar o Estado, pois todos sabem como age o animal em seu estado natural, primeiro ele, se não houver outro mais forte na disputa. Qualquer semelhança com o fato de as normas serem feitas sob medida aos fracos, é mera coincidência.

O valor moral foi a única contribuição importante da Igreja para a construção da sociedade, mas faliu por não ter tido a mobilidade que os tempos necessitam e pela falta de exemplificação do proponente. Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.. E que se diga: o poder não corrompe, instrumentaliza. A única revolução eficaz possível é a do espírito. Ainda somos os mesmos e vivemos como os animais.

quarta-feira, junho 21, 2006

Nasceu mulher!!! ou Welcome to ButtWorld part. II


Já não se fazem mais crianças meninas. A urgência de lucro inescrupuloso em ButtWorld está dissolvendo a infância e a adolescência de meninas, bombardeadas ferozmente pela indústria midiática, de moda e de bens de consumo. A velocidade da informação, aliada ao esvaziamento dos valores deste novo século, trucidou conceitos básicos de qualquer organização que se pretenda civilizada, tais como: senso moral e bem comum. A tão clamada liberdade de expressão dos árduos anos 70 transformou-se em libertinagem de expressão nos dias de hoje, não só pelo conteúdo sexual, mas também pelo maniqueísmo político e a busca de grandes lucros sem nenhum compromisso social. Essa nova mulher já sai da barriga da mãe usando calça de cintura baixa, babylook, salto alto e com uma malícia amplamente estimulada. Os senhores das indústrias, acastelados e assustados com a violência, bradam alto em busca de policiamento, mas não seriam tão senhores e tão acuados se não a disseminassem tanto, ora pelo já explicitado acima, ora pela vergonhosa distribuição da renda. Não haveria farta produção e venda de material cultural de baixo teor se tivéssemos uma sociedade melhor educada, mais justa e igualitária. A reforma no ensino público - feita pelos militares, endossada pela igreja católica e pela então forte classe média brasileira - foi um tiro de misericórdia nas pretensões de alguns seres humanos de viver em comunhão, já que, quanto pior a formação, mais fácil a manipulação e a exploração. Enquanto caminharmos para a desumanização, nossa pretensão de viver em sociedade caminha para a ruína.

terça-feira, junho 20, 2006

Welcome to ButtWorld!!!


A preferência negra e latina é ícone e predomina no pop mundial, através dos tempos por meio de n variantes da black music (Rap, Reggaeton, R&B, MiamiBass, Salsa, Samba, Fanque Carioca...). Dado a nossa localização geográfica e a formação de nosso povo, seja bem vindo a ButtWorld! A música pélvica é a trilha perfeita do nosso filme cotidiano “O império das popozudas”, onde Gretchen é a avó do gênero e Carla Perez um dos tantos outros estandartes. Diria o velho Freud que o sexo move o mundo. Não me sinto diferente dos demais no que se refere a idolatria. Você sintoniza num canal musical e lá está. Tem de todos os tipos para atender a demanda. O que difere o rap americano dos dias de hoje do Fanque Carioca? Somente o discurso dos consumidores, porque há mais aceitação ao Rap que ao Fanque. Vamos ficar só num exemplo a música Candy shop do Rapper americano 50 cent:

I take you to the candy shop
I'll let you lick the lollypop
Go 'head girl, don't you stop

No que se difere de letras de MC Catra, Bonde do Tigrão, Tati Quebra barraco? Reafirmo: no preconceito e falta de informação. Alheio a isto tudo estão às gravadoras que pouco importa o que está sendo cantado, desde que venda e venda bem. Lembro bem das primeiras músicas de duplo sentido que conheci ainda na minha infância: Dona do primeiro andar, dos Originais do Samba e Severina Chique-chique, de Genival Lacerda; e de como eram pueris se comparadas com as de hoje, como por exemplo: Dako é Bom, de Tati Quebra Barraco. Saudades da aurora da minha vida.

segunda-feira, junho 19, 2006

Som de preto, de favelado....


O jornalista carioca Silvio Essinger escreveu um livro bastante interessante sobre a história do polêmico Fanque Carioca. O livro passeia pela história da black music carioca, seus vários ritmos e momentos. O Funky e R&B nos 70's, Eletro e Miami Bass dos 80's além do movimento Black Rio e como isso tudo se transforma no Fanque Carioca, um gênero de cunho popular que embala mais de 1,5 milhões de carioca a cada noite do final de semana. O livro "Batidão, uma História do Funk" não tem a pretensão ser uma obra antropofilosófico como o antecessor do gênero, escrito pelo antropólogo Hermano Viana, padrinho e defensor do Fanque, e irmão de Hebert Viana (este que acabou colaborando de forma determinante no desenvolvimento do gênero, involuntariamente ou não). É um livro jornalístico. O empenho do autor acaba levando a uma radiografia da miséria e da criatividade brasileira, e por aí acaba atingindo o cunho antropológico. É do tipo de literatura despreocupada, assim como o objeto de explanação do livro, mas nem por isso menos incisivo. O livro aborda as vertentes do Fanque Carioca, onde começa sua derivação do Miami Bass e porque isso ocorreu. Tudo isso através de entrevista feitas com vários Mc's, produtores e empresários do ramo. Este mosaico acaba numa radiografia interessante de cotidianos, história e estrutura dos bailes e suas equipes de som. O livro - assim como o de Claudia Assef “Todo o dj já sambou”-, é um grande serviço a história dos DJ’s no Brasil. Deixa o preconceito de lado e vá buscar o seu.

sábado, junho 17, 2006

O fim do elo perdido.




Ser pai é uma experiência ímpar. E a grande pergunta que me faço é: onde andará meu egoísmo, traço de meu carater cultivado, cultuado e idolatrado pelos nem tão longos anos de minha existência? A bem da verdade, na hierarquia da casa eu me encontrava no fim. Neste caso, nada mudou. O que mudou é que por longos seis anos aqui em casa havia um regime matriarcal bem estabelecido, onde Priscilla, Vera Lúcia, Olívia e Pretinha (as três últimas, felinas) reinaram absolutas, dando a mim o direito a algumas respostas que, falsamente, davam indícios da prevalência de minha vontade. Mas a história mostra que não há regime que dure a vida toda. E dia 2 de agosto de 2005, mais precisamente às 05h05min, vinha ao mundo o vingador, o meu Simon Bolivar. Mas nem tudo são maravilhas. E foi assim que o Elo perdido acabou. Ah, o elo perdido era o segundo quarto da casa onde eu tinha meu refúgio da tirania feminina. Era um local onde predominava a mais pura organização masculina, o único local conhecido onde havia portais para o plano paralelo, onde as coisas sumiam e reapareciam meses depois, atormentadas e com relatos de abdução. E hoje faço meu relato em uma sobra de canto da sala, enquanto observo os movimentos do novo pequeno tirano.

Vaca atolada.

Quando se trata de problemas a maioria tende a achar que eles só acontecem consigo. Para não fugir a regra sempre acreditei que só no meu time número um no coração fosse possível ter em campo ex-jogadores e atletas no carteiraço, na maioria das vezes fruto de contratos com cláusulas que só as partes conhecem. Quando falo em time número um não me interpretem mau, pois, falo do SC Internacional. Pois bem, quem justifca a presença em campo de Ronaldo ex-fenomeno na partida Brasil e Croácia? Escalar nove ou dez jogadores ou pessoas interessadas na partida deixou de ser privilégio, segundo o presuposto citado acima, do SC Internacional. Mas não desesperemo-nos ainda, em breve eleições.

Até tu Brutus?! ou Blogs por que não tê-los?

Primeiro você nega, depois resiste, e por fim, aí está. Os motívos ainda são desconhecidos, talvez crueldade para comigo mesmo ou mera avaliação da capacidade de superação. O velho dilema em nova forma: uma tela em branco a espera de um cursor alucinado, detalhado e até mesmo aliviado, se houver êxito nesta guerra criteriosa. Vitorioso ou vencido?
O tempo é juri e magistrado.