quarta-feira, novembro 02, 2016

O Se e o multiverso


Se: conjunção subordinativa condicional – estabelece um sentido de condição, podendo equivaler-se a “caso não”*. 
A finitude, a brevidade e até mesmo a efemeridade da vida deixa pouco espaço para o erro, dentro de uma sociedade materialista, apesar de todos os questionamentos e todas as incertezas existentes. Como um bom livro, um bom filme que fica maior a cada página lida, a incerteza é o trunfo, a graça da vida. Agimos de acordo com a maturidade momentânea e geralmente só fazemos aquilo que as nossas limitações, momentâneas ou não, permitem. Se a incerteza é uma constante, logo, o erro é inerente ao ser.
O multiverso, segundo a Wikipedia, e eu acredito, é um termo usado para descrever um hipotético grupo de todos os universos possíveis. É geralmente usado na ficção científica, embora também como possível extrapolação de algumas teorias científicas, para descrever um grupo de universos que estão relacionados, os denominados universos paralelos.
O Se é um condicionador muito utilizado em programas computacionais, um elemento da lógica: se tal coisa, então tal coisa. Na existência o Se adquiriu uma condição de autopunição: se eu tivesse feito aquilo, naquela situação, hoje, teria sido diferente. E assim começamos a nos fustigar como se no momento em que fizemos a escolha ou adotamos uma determinada atitude tivéssemos o controle sobre todas as possibilidades de escolhas possíveis. Infelizmente, não, somos limitados. Os tropeços, as perdas, fazem parte do aprendizado, sedimentam evoluções.
Muito mais do que um universo, no Se cabe o multiverso, tudo é possível. Se eu tivesse ganhado na mega em 90. Precisamos aprender a aceitar e tentar entender determinadas situações para nos deslocarmos nessa grande espiral.
http://portugues.uol.com.br/gramatica/as-funcoes-se-.html
(Reflexões sobre a perda)

quarta-feira, julho 27, 2016

“Gavetório”


Demorei, sim, qual a novidade? Os processos tendem a demorar para chegarem aos seus devidos fins na mesma medida em que a complexidade deles aumenta. Eu sou um acumulador nato, acumulo coisas físicas, digitais, emocionais e certamente mais um monte de outros acúmulos que ainda não estou pronto para perceber. Essa maneira pela qual as coisas vão se revelando com o passar do tempo é o único sentido racional que encontrei na vida, aprender, aprender e aprender um pouquinho mais.
Tenho déficit de atenção e sou dispersivo e a prova maior é que já estava desviando do quanto demorei para perceber que sou acumulador. O acúmulo de coisas físicas foi apontado pelas duas companheiras que tive. Já o acúmulo digital as pastas e pastas com dvd’s de backup nunca consultados revelaram. Estou trabalhando duro nisso. Cada objeto que me desfaço diminuí a minha bagagem, transformado as mudanças menos dolorosas. Sim, eu sofro horrores com mudança, e gosto tanto que a dor vem por antecipação.
Nem tudo são flores, assim como também nada é por inteiro. Talvez por isso os antigos falavam com certa sabedoria, que, quem guarda o que não presta, tem quando precisa. O mais complexo tende a ficar para depois. Nesse caso, o acúmulo emocional. Tenho claro a importância da memória. Lembrar com carinho de bons momentos vividos ou para não repetir erros passados. A memória serve como um grande filtro, um fusível que protege o sistema de danos maiores.
A danada da memória é complexa. As coisas boas são fáceis de lidar, porém as experiências negativas podem gerar traumas e carmas podendo complicar bastante a estada aqui. Quando comecei a pensar no acúmulo emocional a imagem que me veio foi a daqueles arquivos antigos, cheios de gavetas. Para cada gaveta uma memória. Muita memória, muitas gavetas. Mas, aí surgiu um outro complicador, as memórias teriam pesos diferentes. Dependendo do tipo de memória o arquivo pode ficar muito pesado dificultando uma possível mudança. Escutei de mais de um Baiano num período que estive em Salvador a seguinte frase: Segue em frente, não olha para trás. Essa frase me causou estranhamento por um longo período. Como esquecer o que vivi, como perder os filtros, o combustível? Mas não era esse o sentido, a intenção da sentença, mas sim o de não deixar o passado virar uma corrente, uma âncora.
É complexo manter a memória de uma experiência livre dos traumas. Me veio a imagem da necessária limpeza das gavetas. A importância de ficar leve para uma melhor locomoção e melhor transito pela vida. Disso nasceu a determinação de a partir dai colocar fora todo o peso desnecessário. Um eterno ritual de velórios de gavetas, os gavetórios.
E claro, a cada velório uma ida ao bar beber o morto.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Cálculo existêncial

A matemática tem simplificado a demonstração através de seus símbolos, mas infelizmente não nos explica. Conjunto vazio, pertence, não pertence, igual ou diferente são elementos do também complexo cálculo existencial. Pertinentes, emblemáticos, mas que para o nosso azar não são em si. No cálculo existencial são singulares, efêmeros e às vezes até dogmáticos a mercê do acaso e da subjetividade. A similaridade da lágrima está no engenho glandular.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Matéria comportamental interessante

http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/vidafeminina/noticia/detalhe/Pesquisa-comprova-que-elas-emitem-sinais-conflitantes-na-paquera.html

Delator


Teu beijo é o mapa da tua alma, o demonstrador de nossa química.

Histórias de Babel IV - Mamma Estiva


Não foi à-toa, respeito nasce de sólida base moral ou no seu oposto e ainda também na força bruta, que generosa não exclui as anteriores. Mamma construiu uma sólida reputação em cima do temor e do respeito, sua autoridade forjou-se na associação de seu egocentrismo à sua total falta de respeito, muito bem dissimulada. Uma mulher de muitas histórias e uma das mais importantes delas é o misto de história e fábula sobre sua habilidade no manuseio da inseparável faca que carrega na bota. Contam alguns poucos que conseguiram transpassar sua forte carapaça - forjada a partir de sua infância, nos conflitos diários com seu pai - que ela fugiu pela janela de casa aos quinze anos. Abandonou o conforto do lar para entregar-se ao fogo juvenil da paixão numa terça-feira que nem ela nem os seus esqueceriam para o resto de suas vidas. Deixou para trás sua cidade, sua gente, dentro de um confortável automóvel, seduzida por um galanteador ímpar, o maior atirador de facas, palavras e pedras para o alto jamais visto e também a grande atração de um circo que por ali passou. Quando o circo parou na próxima cidade e estendeu sua lona próximo ao porto, a menina que ali chegava numa carruagem de sonhos, não concebia que ali começava sua universidade, onde graduaria-se por força das circunstâncias e pós-graduaria-se com louvor por opção. O circo não era lá essas coisas, mas o amor e o fato de seu amado e ídolo já ter sido atração do telejornal matinal nacional da televisão paraguaia - tudo muito bem documentado- justifica o dito forjado com alguma maldade em uma das acadêmias de física, certamente por algum desiludido que diz que “a fantasia feminina lidera a expansão do universo”. Após uma temporada de luxúria, acordou zonza sem saber ao certo onde estava.. Chamou pelo seu Tarzan - era assim que ela o tratava na intimidade – mas o seu protetor da selva de pedra nada respondeu. Acabou por levantar-se lentamente indo ao encontro da parede do minúsculo quarto 2x2, pisando por cima de algumas roupas amassadas no chão que abrigava num dos cantos sua calcinha de renda preta, a que lhe fazia sentir fatal, tudo isso misturado ao odor de vazio, de lugar de ninguém e de sexo feito ao amanhecer. Tinha se especializado em motéis baratos e outras espeluncas inomináveis e, por isso, num determinado tempo de sua vida acrescido do ato em banco de automóveis, foram as únicas maneiras possíveis de excitação e chegada ao clímax.. Tomou um banho numa água abundante que jorrava diretamente do cano quase rente a parede, resmungou alguns xingamentos pelo frio. Lembrou que ela e Elísios numa daquelas conversas despreocupadas do pós ato, que concordaram que ele tinha a maior e melhor profissão, advindo do fascínio de ambos por aquilo que fere frio. Havia consigo nesta manhã o incômodo sentimento de culpa por ter partido sem poder trazer seu cãozinho de raça indefinida. Vestiu-se lentamente, espiou-se vaidosamente num pedaço de espelho estrategicamente posicionado, deu uma ajeitada no cabelo dando-lhe ares de descuido pensado, sai descendo preguiçosamente as escadas, dividindo o pensamento entre a necessidade de um bom café da manhã, o cão e a felicidade carnal. Ao passar pela portaria, ouviu:
- Ei, você!
- Ah?!
- O Elísios deixou isto aqui pra você.
Ela, que sempre adorou cartas, desta vez sentiu nas entranhas que aquela não era de boas notícias, e gelou. Abriu lentamente, ouvindo os sons de seu coração palpitante, sentido os batimentos com a intensidade dos tons graves da música eletrônica..
“Minha pequena Idosa
Nunca pensei que poderíamos ir tão longe. Foram tantas loucuras nesses poucos dias. Posso dizer que te amo, amo demais. Minha vida estava sem sentido até o dia que te encontrei sentada e triste e dividimos o banco da praça onde estava o circo. Mas há uma incomoda verdade, tenho uma família e você sempre soube disso, não podendo conciliar, optei pelo estabelecido, pela minha família. Esses momentos que vivemos estarão para sempre guardados no meu coração. O circo deve chegar a minha cidade, que também é a do patrão, em três ou quatro dias. Faremos uma pequena pausa, minha mulher e meus filhos me esperam por lá. Te desejo toda sorte do mundo, por ser essa pessoa maravilhosa que é. Espero que me perdoe e acredite que tudo que te disse tenha vindo do coração. Embora o coração seja engenhoso na mentira, um palhaço, um atrapalhado por natureza. Estou te deixando estes trocados, é o que posso te oferecer por hora, para que volte para tua família, assim como estou voltando para minha. Guarde nossa linda história no seu coração.
Te amo.
Do teu, para sempre, Elísios.
Ps: Caprichei na escrita, afinal você adora carta.

A vida só vale a pena se vivida intensamente”


Já fazia quinze dias que o circo havia partido levando com ele seu amado. Os pequenos furtos para saciar a fome nos supermercados locais já estavam ficando arriscados, o dinheiro já não dava mais pra garantir a volta, na verdade nunca seria o suficiente -o retorno teria um preço demasiado alto- daria para no máximo com alguma negociação mais uns quatro ou cinco dias no 2x2 do hotel Continental Tia Jane. Foi neste dia de muita lucidez , falta de perspectiva e total desespero que ela conheceu Elisa, também moradora do Continental, e detentora da profissão mais antiga do mundo. Boemia, a loira farta e generosa sentiu-se irmanada à pequena numa bebedeira homérica.. Elisa tornou-se sua madrinha, mãe, confessora, mestra e tutora.. Mamma na sua meninice logo caiu no gosto dos marinheiros e principalmente dos estivadores trabalhadores da doca. Apropriou-se de seus vocabulários e fazendo bom uso deles na hora apropriada, levando seus clientes ao delírio. Prosperou no ramo, abriu sua casa, tatuou, teve muitos homens, mas seu coração ainda pertence ao que ela chama de verdadeiro amor. Hoje, pelas coisas que viveu, nos seus trinta e poucos anos de vida, Mamma ainda é uma linda mulher. E é na beleza que o perigo tem predileção por fazer morada. Fantasiosa e sagaz na arte da retórica e do sofismar, dominou as sutilezas entre mentir e omitir como ninguém. Fez-se PHD na arte do “negar até a morte”. Sempre lhe faltou a noção do momento exato para a pontuação final. E nem estes poucos que a conhecem ou julgam que a conhecem, conseguem imaginar a respeito do que ela diz, o local aproximado onde realidade e mentira tenha esticado a sua tão frágil cerca divisória , uma vez que nem mesmo Mamma consegue definir. Ela ainda espera por uma carta ou um email de Elísios alimentado por um sonho que fortificou quando num momento de decepção, amargura e culpa entregou todas as juras, bilhetes e a carta de despedida num envelope a um cliente caminhoneiro apaixonado, com a incumbência de entrega-lo a Cássia mulher de Elísios, descrita por esse em alguns momentos como intempestuosa em outros de barraqueira. Tudo isso, movida por um desejo inconsciente de afastar os obstáculos de seu caminho. Tarefa que o apaixonado motorista executou com dedicada eficiência em nome dos favores concedidos. Contagiando a distância num longo beijo espiritual envenenando, seu amado Elísios, que abalado, silênciou-se. Esta carta que ela ainda espera deverá vir em resposta as muitas escritas por ela e que logo após o término de sua grafia lhes roubavam a coragem e a força para posta-las o que acabou por encher uma gaveta ou ainda dos emails escondidos em alguma pasta secreta de um dos computadores do La Rose – seu mais rentável investimento- também não enviados. Sua predileção direciona seu desejo para uma carta romântica que virá escrita em um lindo papel reciclado composto por pedaços de pétala e odor de rosas vermelhas, com todos os adjetivos elogiáveis contidos no Aurélio e nela ele ainda se desculpará pelo grande erro que cometera ao entrega-la a sorte, pelas mentiras solenes e sua falsa e atenciosa preocupação calculada. Se dirá arrependido e anunciará sua chegada em dois dias. Chegará montado montado em um corcel branco lindo como estava no dia em que iniciaram a fuga e desse dia em diante se dissolverá o passado havendo somente o presente. Irão morar numa cabana que ele comprou com os seus vencimentos na região dos grandes lagos canadense que agora faz calor ao dia .Sim, ela acredita em príncipe, mas afinal, quem não acredita?

Vivo

Apesar de todo o zelo, vivo sendo surpreendido. Sintomaticamente permaneço vivo.

quinta-feira, outubro 23, 2008


Grandiloqüente e sábio, o silêncio, sempre tem mais a dizer.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Como diria meu amigo Porãzito: MEEESSSTRE!!!!!

Samba do Grande Amor

Chico Buarque

Composição: Chico Buarque de Hollanda

Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador

Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira

Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor

Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira

Atos do ator ateu

Quem eu represento, o que eu represento e o que isso representa?

quinta-feira, setembro 18, 2008

Futuro do singular

Nascemos vocacionados para o papel de vítima, e ao representarmos o personagem fazemos inveja a Constantin Stanislavsky. Tenho questionado os motivos e ainda não sei ao certo se são: por forte influência da religião na nossa cultura; por nosso grande egoísmo; pela forte carência, fruto do vazio existencial ou uma mistura dos citados acrescido de mais alguns ingredientes secretos fornecido por algum druida da Gália. Vivemos no mundo singular, desaprendemos o plural a cada dia e quando ainda o usamos é para diminuirmos o peso de alguma culpa divindo-a.

Amarga

Exemplos, mitos e heróis (príncipes encantados) tem entre outras, a função de dar-nos o conhecimento do amargo.

Boca grande

Os microhábitos cotidianos são também chamados delatores.

Transbordar

É preciso que transborde, para que entenda-se o limite e que o tranbordar traz danos irrecuperáveis.

Desconhecidos ...

também são aqueles que nascem de nós na situação limite

Trair-se


Grafar sentimentos e opiniões equivale a acomodar por aí o decodificador ou o decriptador da sua alma. Contra os ataques dessa natureza firewalls e anti-vírus e até mesmo a tropa de choque governista são inoperantes. Afinal, bondade ou maldade é apenas questão de vetor. Portanto, atenção, pois sempre haverá um hacker ou cracker de plantão querendo decifrar seu código genético, ético, etílico ou idílico e da ocasião faz-se o ladrão.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Mergulhador


Como numa competição entre meninos, guardada nas memórias de sua infância, ele lançou-se ao fundo em apneia, a fim de saber o tempo limite de sua resistência. Ao longe um tubarão branco traçou seus planos. A vida já não abunda, descaso, descuido e insensibilidade fizeram do fundo um cenário triste composto de dejetos e lama. Este imprevisto o fizera vítima da lama. Ele faz os cálculos de sua resposabilidade na composição do cenário. O tempo é o bem mais precioso nessa era veloz. Ele segue no fundo resistente e determinado a vencer a lama e o predador, enquanto lhe passa na cabeça: Assim como as águas, morrem os amores.

quinta-feira, julho 03, 2008

Guetos, tribos e belas....

"As idéias não escolhem rostos ou estilos; são escolhidas por estes. "
Um rosto, é só um rosto, já às idéias... Portanto, não faça juízos apriori!

sexta-feira, junho 20, 2008

Tolerância


Sou muito grato ao Gerbase, faz alguns anos que seu filme Tolerância, passou pelas telas do cinema nacional. E o
briefing do filme me acompanha desde então. "É muito mais difícil ser Tolerante do que ser livre" já fiz algumas variações do mesmo, por exemplo "É muito mais difícil ser Tolerante do que ser fiel". Os casados, os namorados que o digam. Uma das coisas mais difíceis à natureza humana com certeza, é a conjugação e introjeção do verbo tolerar. Assim sendo, uma das maiores de todas as proezas é libertar-se da natureza humana. Não estou falando da forma idealizada e religiosa da palavra e sim daquela encontrada em nossos atos e na indiferença nossa de cada dia. Ser casado e ser feliz passa nescessariamente pelo entendimento e a introjeção do tolerar entre outras coisas mais.